A pessoa com deficiência congênita ou adquirida pode ou não apresentar um quadro depressivo ao longo do percurso de vida. A história construída acerca da deficiência no ambiente de convivência, faz toda diferença. Nos casos de deficiência congênita, os pais geralmente projetaram seus desejos e anseios naquela vida e, ao receberem a notícia no pré-natal ou após o nascimento que a criança possui uma deficiência, alguns não reagem bem e a possível frustração é refletida na forma que conduzem o fato ao longo da trajetória de vida da criança. Quando adulto, todas as crenças construídas a partir de informações sobre a própria deficiência, recebidas no ambiente de convivência estão enraizadas; muitas crenças
disfuncionais, resultando em baixa autoestima, desânimo, inferioridade, mentalidade limitada quanto ao que poderá realizar, descrédito na própria capacidade para vencer os desafios impostos pela condição, podendo acarretar em depressão.
Quando a deficiência é adquirida, houve a experiência prévia, de como era a vida antes da deficiência. Há um parâmetro físico e psicológico que poderá ser gerador de angústia e depressão ou usado como mola propulsora para superar-se, vencer desafios para construir uma vida boa, com base nas próprias forças e potencialidades que podem ser descobertas a
partir da nova condição de vida. Sob o prisma da superação, conduzir a vida após uma deficiência adquirida a pessoa
acometida pode ser considerada resiliente. A resiliência é uma habilidade comportamental muito valorizada em âmbito esportivo e profissional na atualidade.
Entendendo a Depressão
Humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetamsignificativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo ( DSM -5 , 2017 ). Fazendo uma analogia aos quadros coloridos do famoso artista Romero Brito, a vida éliteralmente vista em preto e branco. Há falta de reatividade a estímulos em geral prazerosos (
não se sente muito bem, mesmo temporariamente, quando acontece alguma coisa boa ). Algumas pessoas, apresentam sintomas ansiosos, melancólicos, temor de que algo terrível aconteça, perda ou ganho de peso, hipersônia ou insônia e em casos mais graves, catatonia, alucinações e sentimento de perda de controle de si mesmo. A depressão, uma das principais causas de incapacidade no mundo, tem elevada prevalência. Esse grupo de transtornos ocorre em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, sendo detectável em todas as faixas etárias, independentemente de cor, raça, estado civil ou condição socioeconômica. O estigma social reforça que a depressão é “frescura”, “falta do que fazer”, “não tem com o que se preocupar”, “ é um (a )desocupado (a ) e tudo que siga essa linha de crenças que em nada ajuda, pautada no aspecto da desinformação, dificulta a busca pelo tratamento adequado à doença que deve ser uma combinação entre medicamento prescrito pelo Médico Psiquiatra e Psicoterapia realizada pelo Psicólogo.
Muitas pessoas sentem vergonha e culpa por apresentarem sintomas de depressão, não buscam ajuda e há um agravo progressivo no quadro depressivo. Se for diagnosticado no início da doença e receber tratamento adequado, as chances de
progressão da doença é reduzida. Os sintomas depressivos podem ser classificados em gravidade Leve ( dois sintomas ),
Moderada ( Três sintomas ), Moderada- Grave ( Quatro ou cinco sintomas ), Grave ( Quatro ou cinco sintomas e com agitação motora ) ( DSM – 5, 2017 ) Essa avaliação deve ser realizada pelo Médico Psiquiatra ou Psicólogo, através de anamnese, avaliação e diagnóstico.
O HUMOR É TRISTE, COMO SE A VIDA FOSSE PRETO E BRANCO, MAS O APOIO DA FAMÍLIA
PODE AJUDAR ,DANDO TOM COLORIDO NO SENTIDO DE VIVER, QUE FOI PERDIDO.
Embora nenhuma quantidade de dados consiga captar ou transmitir adequadamente a dor e sofrimento pessoal vivenciados na depressão ( Frank e Thase, 1999; Jarrett, 1995; Wang; 2015) o afeto, apoio e cuidado da família contribui na recuperação daquele que sofre de depressão. Entretanto, a família pode apresentar falta de habilidade para lidar com a doença, podendo
agravá-la. Buscar informação sobre a doença é o 1º passo para o manejo da questão. A maneira que a família conduz a situação, se for positiva, pode ajudar na ( RE ) construção de um novo ambiente familiar, facilitando no processo de um novo sentido de viver daquele que foi acometido pela depressão. Ouvir, silenciar, compreender, ter empatia e paciência pode ajudar muito. Buscar ajuda Psicoterápica também poderá enriquecer o processo de convivência
A TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL COMO UM DOS PILARES NO TRATAMENTO DA
DEPRESSÃO
Um dos avanços mais importantes nas abordagens psicossociais aos problemas emocionais foi o sucesso da terapia cognitivo para depressão. As evidências da poderosa eficácia dessa abordagem aumentaram constantemente com o passar dos anos, particularmente em relação aos resultados de longo prazo. O modelo cognitivo parte da premissa de que a cognição, o comportamento e a bioquímica são todos componentes importantes dos transtornos depressivos. O terapeuta cognitivo intervém nos níveis cognitvo, afetivo e comportamental. Nossa experiência sugere que quando alteramos cognições depressivas, mudamos simultaneamente o humor característico, o comportamento e, como sugerem algumas evidências ( Free, Oie e Appleton, 1998; Joffe, Segal e Singer, 1996 ) a bioquímica da depressão. Através de sessões estruturadas, a terapia cognitiva funciona por meio da alteração de crenças e propensões de processamento de informações e que diferentes aspectos da cognição cumprem papéis distintos no processo da mudança.
Pessoas deprimidas, distorcem constantemente suas interpretações de eventos, de forma que mantém visões negativas de si mesmos, do ambiente e do futuro. Grande parte desse processamento cognitivo distorcido ocorre fora da esfera da consciência, sob a forma de pensamentos automáticos, aqueles que intervêm entre eventos de vida e reações emocionais da pessoa a esses eventos. Dessa forma, as crenças e pensamentos disfuncionais da pessoa deprimida são reestruturadas.
Algumas pessoas respondem bem ao processo psicoterápico com estratégias cognitivo comportamentais e há redução significativa nos sintomas da depressão, sem a necessidade do uso de medicamento. Mas cada caso deve ser cuidadosamente avaliado.
A FORMA QUE EMPREGOU SENTIDO, A PARTIR DO PRÓPRIO OLHAR, NO ‘SER’ DEFICIENTE, FAZ TODA DIFERENÇA.
Empregamos significado aos fatos e os representamos para nós mesmos com sentido atribuído. SER deficiente pode ser uma condição física, mas o estado psicológico faz toda diferença. Quando atribuímos muitas percepções com viés negativo sobre uma determinada situação, ela pode parecer pior do que realmente é. O sentido de SER no mundo deve ser mais amplo que a condição de deficiente. A partir do que sou, da minha essência, do meu potencial, como posso contribuir comigo
mesmo para ter qualidade de vida? Como posso transformar as dificuldades em oportunidade de crescimento pessoal? Como posso levar para o outro o meu exemplo de superação, a partir da minha história? A cura interior muitas vezes chega quando passamos a olhar com outros olhos para a história do outro; com empatia e carinho. Comece olhando para si com esse cuidado e sua relação consigo mesmo poderá mudar.
PESSOA COM DEFICIÊNCIA, MAS CHEIA DE VIDA PARA VIVER.
Há vida para viver! Viver é inédito todos os dias para todos. É uma construção diária ou (RE) construção a partir de fatos ocorridos ou sobre o que não planejamos. Encarar a realidade com otimismo, mesmo com as dificuldades que a condição e/ou limitação física impõe contribui com o cultivo à saúde psicológica. Socialize, construa uma rede de amigos, disponibilize tempo para o lazer; busque entender-se com aqueles que convive, cuide de sua saúde física, alimentação, constribua com a sua história, dentro das suas possibilidades. Valorize os momentos felizes, de conquista; vibre cada superação.
Afinal, você ainda está cheio de vida para viver!
Dra Priscila Valério, Psicóloga Clínica e Esportiva, CRP: 5/44811, cognitiva comportamental, especialista em Liderança e Gestão de Pessoas/UFRJ, criadora da Psicologia de Guerreiro, atuante em clínica psicológica, consultoria psicológica, leciona sobre inteligência comportamental em esfera corporativa, atua há 20 anos com pessoas, aborda temas como potencial humano, habilidades sociais, emoções, habilidades cognitivas e transtornos psicológicos etc.
Referências bibliográficas: (Manual de Clínico dos Transtornos Psicológicos ; David H. Barlow) (Instrumentos de Avaliação em Saúde Mental ; Clarice Gorenstein Yan;Pang Wang ; Ines Hungerbuhler ;) DSM – 5;