Enquanto esperava no banquinho vermelho, acompanhava a mãe com os olhos, se arrumando, penteando os cabelos, passando batom, até calçar os sapatos e pegar a bolsa para saírem.
Lembra-se bem dos trejeitos da mãe, e até hoje leva consigo às manhãs de beijo e abraço apertado, dizendo que teriam um dia lindo.

Os vínculos afetivos se perduram por toda vida. Embora, busquemos ou repitamos modelos que possam ser disfuncionais, geralmente trazidos da tenra infância, novas formas de vincular-se podem ser vivenciadas.

É perceptível, que o avanço tecnológico, a sociedade do consumo, competitividade quanto à aquisição de bens materiais, redes sociais como vitrines de vidas nem tão perfeitas assim, contribui para um mundo volátil, incerto, complexo e de ambiguidade.

O novo modelo de relacionamento é mais fugaz, e a busca pelo prazer na esfera da superfície rasa do desejo passageiro com intensidade, rápido, de idealizações, em detrimento da busca por experiências profundas.

O mundo de telas rápidas, passadas com o dedo tramita em nova realidade sobre o amor, a sexualidade, e mais recentemente, o gênero dos indivíduos tornaram-se líquidos, sem apego, fronteiras ou diferenciação.
Mas, como tudo tem um preço à pagar esse fenômeno tem um preço alto para os indivíduos: vazio, medo, solidão e desamparo.

Por isso, há tantas pessoas que anseiam por vínvulo, aproximação, nem sempre concretizados, gerando frustração e receio para relacionar-se de forma mais profunda.

Que tipo de vínculo afetivo você desenvolveu ao longo da vida?
Que modelos recebeu?
Como a configuração do novo mundo impacta nos vínculos, frouxos e laços enfraquecidos?

Será que o vazio que não sabe lidar, e o medo do abandono, confundidos com a paixão, prevalecem como força motriz da busca incessante e frustrante por uma fusão e totalidade, em vez de buscar uma certa intimidade consigo e com o outro?

Nem sempre as lembranças de vínculos serão das manhãs de beijo e abraço apertado da mãe, dizendo que teriam um dia lindo, mas você pode escolher vinvular-se ao outro de forma saudável e prazerosa, sem liquidez ou sentimento de vazio.

Psicóloga Priscila Valério
CRP: 5/44811